quarta-feira, junho 28, 2006

Nova Sede da Fundação Iberê Camargo

Brasil
Siza vieira



Depois de ver este projecto na Bienal de Veneza de 2002, com o prémio "Leão de Ouro", aguardava ansiosamente as primeiras imagens desta obra.

Aqui fica o link onde poderão ver estas e mais imagens, respectivas às várias fases da sua construção.



segunda-feira, junho 26, 2006

Sobre o filme "Klimt"

Numa Viena onde a procura de Beleza torna-se uma procura do útil, Klimt continua à procura dessa Beleza num rosto de uma mulher, que talvez não exista.

“Klimt”, é um filme que mistura o sonho e a vida, os corpos nus e os corpos vestidos, e leva-nos a um olhar mais próximo das próprias “alegorias” de Gustav Kimt.

Um pintor que rebate tudo o que capta com o olhar, para um único plano existente no seu interior. Este olhar não tem perspectiva, nem planos, nem deixa cair sobre si a sombra do conhecimento.

Klimt pede água… ele é apenas mais uma flor.

raimundo gomes, 26 I 06 I 2006.


Klimt





Ficha do Filme:

Título original:
Klimt
De: Raoul Ruiz
Com: John Malcovich, Veronica Ferres, Saffron Burrows
Género: Dra
Classificacao: M/12
ALE/Áustria/FRA/GB, 2006, Cores, 97 min.

Argumento:

Paris, 1900. Gustav Klimt é homenageado na Exposição Universal enquanto em Viena é condenado como provocador. Vive a vida como a pinta, os seus modelos são as suas musas. Klimt está à frente do seu tempo. As suas relações apaixonadas com as mulheres e a busca eterna da perfeição e do amor reflectem-se em todas as suas obras. "Klimt", um filme sobre uma das mais notáveis figuras da modernidade europeia, um pintor que foi maior que o seu país e a sua época, é realizado por Raoul Ruiz.

in: "publico.pt"

site oficial




terça-feira, junho 20, 2006



As surpresas que tens perante o mundo, são as partes do teu corpo que passas a conhecer.


raimundo gomes, 20 I 06 I 2006




“Vais olhar para todos os espectadores da sala um por um e cada um por si.
Lembra-te bem disto: a sala é em si só o mundo inteiro como tu o és, tu também. Nunca te esqueças.”

DURAS; Marguerite, Textos Secretos, Quetzal Editores, Lisboa, 1999, p.22.




Caça às borboletas

foto: "Para onde olham os sonhos",
Raimundo Gomes, 2003.




"Caça às borboletas

Antes de eu entrar na escola e sem prejuízo de algumas viagens de verão, íamos todos os anos para casas de veraneio nos arredores. Durante muito tempo, essas estadas foram-me recordadas pela espaçosa caixa na parede do meu quarto de rapaz, onde se viam os começos de uma colecção de borboleta cujos exemplares mais antigos foram caçados no jardim do Brauhausberg. As borboletas-da-couve com os bordos cortados, as borboleta-limão de asas muitos lustrosas, traziam-me à memoria caçadas ardentes que tantas vezes me tinham levado para longe dos caminhos bem arranjados do jardim, para brenhas onde, impotente, enfrentava as conjurações do vento e dos cheios, da folhagem e do sol, que provavelmente orientavam o voo das borboletas. Voam para uma flor, ficavam a pairar por cima dela. Com a rede no ar, eu só esperava que o poder de atracão que a flor parecia exercer sobre o par de asas completasse o seu trabalho; então o frágil corpo deslizava com leves impulsos laterais, para, igualmente imóvel, ir sombrear outra flor e mais uma vez a deixar com a mesma rapidez, sem lhe tocar. Quando uma vanessa ou uma esfinge, que eu facilmente poderia apanhar, me comia as papas na cabeça hesitando, desviando-se, esperando, eu bem gostaria de me dissolver em luz e ar para me poder aproximar e dominar a presa. E o desejo realizava-se na medida em que cada batimento ou oscilação das asas, que me fascinava, me tocava com o seu sopro ou me fazia estremecer. Começava a impor-se entre nós a velha lei dos caçadores: quanto mais eu me confundia com o animal em todas as minhas fibras, quanto mais eu me tornava borboleta no meu íntimo, tanto mais aquela borboleta se tornava humana em tudo que fazia, até que finalmente, era como se a sua captura fosse o único preço que me permitia recuperar a minha condição humana. Mas quando tudo acabava era penoso fazer o caminho desde o lugar da caçada feliz até ao acampamento, onde o éter, o algodão, os alfinetes de cabeças coloridas e as pinças apareciam na caixa de herborista. E em que estado ficava o terreno atrás de mim! Ervas partidas, flores pisadas; o próprio caçador empenhara o próprio corpo, deixando-se arrastar pela rede. E no meio de tanta destruição, insensibilidade e violência, a borboleta assustada lá continuava, a tremer e apesar disso graciosa, numa dobra da rede. Enquanto fazia este caminho penoso, o caçador era assaltado pelo espírito daquele que está destinado a morrer: Quanto à língua Estranha em que aquela borboleta e as flores se tinham entendido diante dos seus olhos, agora também ele tinha aprendido das suas leis: A sua ânsia de matar diminuíra na mesma proporção em que a sua confiança aumentara. O ar em que aquela borboleta voltejava está totalmente impregnado de uma palavra que desde decénios não passa pelos ouvidos nem pelos lábios. Conservou aquele lado insondável com que os nomes com que os nomes da infância se apresentam aos adultos. O longo Tempo de silenciamento transfigurou-as: É assim que vibra, no ar cheio de borboletas, a palavra “Brauhausberg”.1 A nossa casa de verão ficava no Bauhausberg, perto de Postdam. Mas o nome perdeu toda a pesadez, já nada contem que se relacione com uma fábrica de cerveja, é quando muito um monte envolvido no azul, e que no verão se erguia para nos receber, a mim e aos meus pais. Por isso Postdam da minha infância se destaca de um ar tão azul que parece que as bruxas e almirantes, olhos-de-pavão e auroras que aí esvoaçavam se espalham sobre um daqueles brilhantes esmaltes de Limoges em que se recortam, sobre fundo azul escuro, as ameias e as muralhas de Jerusalém.

1 – À Letra “Monte da fábrica de cerveja”."


BENJAMIN, Walter, Imagens de Pensamento, Edição Assírio & Alvim, Edição e Tradução de João Barrento, Lisboa, 2004, pp. 80-82.



terça-feira, junho 13, 2006

“Não há nada de especial em não nos orientarmos numa cidade. Mas perdermo-nos numa cidade, como nos perdemos numa floresta, é uma coisa que precisa de se aprender. Os nomes da ruas têm então de falar àquele que por elas deambula como o estalar de ramos secos, e as pequenas vielas no interior da cidade mostrar-lhe a hora dia com tanta clareza como um vale na montanha.”

BENJAMIN, Walter, Imagens de Pensamento, Edição Assírio & Alvim, Edição e Tradução de João Barrento, Lisboa, 2004, p.82.

RETIRO: CORPO - PAISAGEM



UM PROJECTO FARPAS TEATRO

EM COLABORAÇÃO COM ANA MIRA (DANÇA CONTEMPORÂNEA)

E LOURENÇO DE AZEVEDO (CHI KUNG - DA CHENG CHUAN)

as datas: 9, 10 e 11 Junho


os workshops:

Correndo sem retorno, os rios são seres secretíssimos supremamente metamorfoseáveis.

Maria Filomena Molder



Numa forma elevada de contemplação da paisagem, os movimentos surgem com afinidade ao caminhar, ao caminhando. É na indeterminação do lugar onde se quer chegar e na impossibilidade de traçar um limite preciso, que exploramos os movimentos do corpo, também ele metamorfoseável, consoante o areal, o rio, o mar, as dunas, o recouvo.

De manhã a exploração centra-se na escuta do corpo aquando o seu despertar, o chi kung e movimentos desta fase ligam o corpo a si e à paisagem. À tarde a pesquisa desenvolve-se na relação do corpo com o ambiente em diferentes espaços na areia ou no mar. No crepúsculo retornamos ao centro com o Chi Kung.

Chi Kung

Das dinâmicas infinitas que observamos no universo, estas podem ser resumidas a dois movimentos primordiais a expansão e a contracção, nas estações nos dias, nos corpos e em todas as células do nosso ser. Longe de ser uma disciplina teórica o Chi Kung ensina ao corpo a reconhecer estas duas forças opostas mas complementares, pelos caminhos da postura da respiração e da intenção. Passo a passo.

Movimentos

As paisagens são espaços transitórios que se vão objectivando durante a exploração de movimento e uma possível abordagem à composição em dança. Partem de imagens, ou seja, sensações perceptíveis no tempo que surgem na permeável relação corpo-atmosfera. É muito sobre a visão - a visão da pele, da escuta. De certas zonas de intensidade do corpo ou densidade do ar revelam-se movimentos com uma certa duração. Um método-partitura introduz cartografias de aproximação e vivência (nas paisagens), onde se agenciam territórios existenciais habitáveis.


Participantes:

- Carlos (organização, Farpas Teatro)
- João (organização, Farpas Teatro)
- Ana (formação corpo, movimento, dança)
- Lourenço (formação chi kung)
- Luisa
- Vanessa
- Raimundo
- Teresa
- Natacha
- Elena
- Lucia
- Agostin

quinta-feira, junho 08, 2006

"O fenómeno não se afasta do obervador. Pelo contrário, está assimilado e enredado na individualidade do observador."

GOETHE, Máximas e Reflexões, Relógio D'Água, p.130.
“O que é que significa compreender uma imagem, um desenho? Aqui também há compreender e não compreender. E estas expressões podem ter diversos sentidos. A imagem é, talvez, como uma vida-silenciosa (1); mas há uma parte que eu não compreendo: não sou capaz de ver nela um corpo, só vejo manchas de cor na tela. - Ou vejo como sendo corpos mas na verdade são objectos que eu não conheço (parecem ser instrumentos, mas não conheço o seu uso). – mas também talvez conheça os objectos mas não compreenda – a sua disposição.”

WITTGENSTEIN, Ludwing, Tratado Lógico-Filosófico * Investigações Filosóficas, Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 3ª Edição, Tradução e Prefácio de M. S. Lourenço, Lisboa, 2002.

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill (1924-1986)
Poesias Completa

terça-feira, junho 06, 2006

Olhar não muda o mundo, apenas faz decobrir quem somos.

raimundo gomes, 06 I 06 I 2006.