quinta-feira, novembro 25, 2010
quinta-feira, novembro 11, 2010
quarta-feira, novembro 03, 2010
terça-feira, novembro 02, 2010
segunda-feira, novembro 01, 2010
segunda-feira, outubro 25, 2010
domingo, outubro 24, 2010
sexta-feira, outubro 22, 2010
segunda-feira, outubro 18, 2010
Aquele olhar! RG 18-10-2010
segunda-feira, outubro 04, 2010
sábado, outubro 02, 2010
"Uma história a dois" escrito por Tiago Bartolomeu Costa
"Sofia Dias e Vítor Roriz são uma das mais importantes revelações dos últimos anos na dança portuguesa. Amanhã no Circular mostram "Unfolding", uma das melhores peças deste ano.
A história da dança contemporânea em Portugal não é pródiga em duplas. Uma eventual genealogia não seria representativa de uma corrente ou mesmo de uma intencionalidade que não partisse de afinidades estéticas e cumplicidades pessoais.
Sobretudo, se falarmos em duplas, são mais os exemplos de pares que assinam diferentes áreas de um mesmo espectáculo, do que aquelas que co-assinam uma obra. Falaríamos, claro, de Francisco Camacho e Carlota Lagido, ele a coreografá-la e ela, depois a assinar os figurinos das suas peças, e ainda de Sílvia Real e Sérgio Pelágio, ela a coreografar-se e ele a sublinhar a sua particular construção através da banda-sonora.
Depois teríamos que falar de peças, mais do que percursos. São os casos de "Nu Meio", de Filipa Francisco e Bruno Cochat, de "Dançar Cabo Verde", de Clara Andermatt e Paulo Ribeiro, de "Antonio Miguel" e "Antonio & Miguel", de Miguel Pereira e Antonio Tagliarini", de "Swingers", de André Murraças e Inês Jacques.
E, por fim, e de modo a explicar a singularidade, de vidas que se cruzam com o trabalho, como os casos de Ana Borralho e João Galante (em destaque neste trimestre com uma quase retrospectiva no Maria Matos), de Luís Guerra e Tânia Carvalho, que se coreografam mutuamente, e, no que agora importa focar, Sofia Dias e Vítor Roriz.
"Unfolding", a peça que apresentam este sábado, 2, no festival Circular, em Vila do Conde, é a sétima peça que co-assinam e teve a sua estreia em 2009 no âmbito do projecto internacional Looping, desenvolvido pelo festival Uzés Danse CDC (França), em parceria com o TanzWerkstaat Berlim (Alemanha) e o Espaço do Tempo (Portugal). Mas não teve ainda direito a uma apresentação regular em Portugal. E é pena, já que simboliza a solidificação de um percurso feito à margem de uma qualquer obediência estilística, liberto de pressões deterministas e, muito particular, consciente da possibilidade de transformação do significado do movimento quando exposto perante o quadro formal de uma apresentação.
Estados mentais
Sofia Dias e Vítor Roriz falam, entrecortando a palavra e terminando um as frases do outro, de "estados mentais": "Há uma estrutura que é fixa no nosso trabalho mas há também e sempre uma margem de improviso. Isso permite-nos reciclar estando a fazer. Acreditamos muito no efeito do real no momento da apresentação", começam por contar.
É um trabalho de detalhe, introspectivo, que vai relevando uma estrutura feita a partir da memória que o corpo traz para cada movimento, feito de frases coreográficas que são atentas aos percursos individuais, ela vinda do Conservatório Nacional e tendo prosseguido estudos em Nova Iorque, ele tendo-se licenciado em Educação Física e Desporto e continuado a formação no Fórum Dança, ambos com ampla experiência de trabalhos feitos com Wim Vandekeybus, Lília Mestre, Tânia Carvalho, Javier de Frutos, Jan Fabre ou Aldara Bizarro (e brevemente em cena no São Luiz na nova peça de Clara Andermatt e Marco Martins).
"Vamos fixando o processo à medida que o vamos repetindo. Não é tanto a nossa expectativa sobre o que deve ficar, embora façamos coisas muito claras, mas deixarmos que seja o trabalho a revelar-nos isso. Quando começamos a improvisar há um estado mental que aflora e, ao longo do trabalho, vamos tentando definir o que não cabe nesse estado", explicam.
"O material vai-nos informando da direcção do trabalho. As soluções de composição vêm do material de trabalho", acrescentam, falando de uma "composição em tempo real". Este modelo de trabalho, que tem como base uma forte cumplicidade que procuram preservar - "convidamos pessoas para verem o trabalho, mas às vezes isso leva-nos para outros lados que não são os do processo", dizem -, permite que as suas peças possam ser entendidas como paragens de um discurso. "Há algo que vai muito para lá da articulação de palavras. Escrevemos muito, falamos muito e, por isso, não é um estado de transe. A dada altura segues numa espiral em que já não és tu que dominas o material, mas há regras e nisso somos certinhos".
Ele trabalha mais de manhã e ela mais à noite: "Quando nos encontramos, à tarde, o trabalho surge desses ritmos. No fundo estamos sempre a falar da mesma coisa mas é a sensação de incompletude que nos faz questionar. É como se os trabalhos fossem tentativas de experimentação de um discurso que surge deste nosso encontro".
O que nos têm vindo a apresentar parece partir dessa inquietude que faz com que os seus corpos activem ideias que encontram num corpo em aberto uma forma de trabalho não definitiva. "Unfolding" explora uma energia particular, criada a partir do diálogo proposto pelos dois corpos, "sem que se tenha ido especificamente à procura dela". "Tem a ver com o facto de nós próprios passarmos por uma experiência quando fazemos a peça. Há formas de acção e interpretação que vão condicionando os processos e aquilo a que chegamos são coisas muito simples que encontram o seu espaço e a sua justificação". Dizem ainda que "há um esforço grande de pesquisa" que leva o corpo a perguntar o que traz como memória e o que entende como percurso. "Esta ideia de contenção obriga a uma depuração", reconhecem. E nessa depuração, ou através dessa pesquisa atenta a um percurso livre, o que estão a construir oferece paisagens que a criação contemporânea portuguesa há muito não encontrava."
"Mil livros e poema desconhecido de Borges encontrados na Argentina "
Um poema desconhecido do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899/1986) e cerca de mil livros com anotações suas foram encontrados na Biblioteca Nacional da Argentina onde o escritor trabalhou, divulgou a agência AFP.
Em 2004, dois investigadores iniciaram um trabalho de revisão dos mais de 900 mil livros da Biblioteca Nacional Argentina e encontram estes livros anotados com comentários de Borges e também com esquemas de obras futuras.
Uma das principais descobertas é um poema inédito, manuscrito por Borges sobre um exemplar em alemão do teólogo Christian Walch e datado de 11 de Dezembro de 1923. Os especialistas reconheceram o traço fino e preciso característico do autor: “A esperança/como um corpo de menina...”, lê-se.
“Avisámos os pesquisadores de todo mundo, das universidades de Virginia e Pittsburgh nos Estados Unidos até Leipzig e Hamburgo na Alemanha”, contou à AFP, Laura Rosato, uma das investigadoras. “Alguns deles já nos anunciaram que virão [à Biblioteca] antes do fim do ano”, acrescentou, orgulhoso, Germán Álvarez, que também trabalha na Biblioteca Nacional Argentina, da qual Borges foi director durante 18 anos.
Rosato e Álvarez reuniram e publicaram as suas descobertas numa obra de 400 páginas intitulada “Borges, livros e leituras”, editada pela própria Biblioteca Nacional."
PÚBLICO
"Partida, largada, rebutoh" escrito por Tiago Bartolomeu Costa
"Xavier Le Roy abre Mugatxoan, em Serralves. Product of Other Circumstances expõe-no em pleno processo de aprendizagem
Quantas vezes pode um coreógrafo começar uma carreira? Tantas quantas as ideias que tiver para fazer um espectáculo, dir-se-á. Mas, por vezes, as ideias que os artistas têm em conversas ocasionais podem virar-se contra eles. Foi mais ou menos isso que aconteceu quando o coreógrafo Xavier Le Roy, de 47 anos, leu o e-mail de Boris Charmatz, também coreógrafo, lembrando-o de uma conversa que tinham tido anos antes. Nela, Charmatz falava de uma tirada dita por Le Roy sobre o butô, o género de dança contemporânea oriental mais conhecido: "Para nos tornamos num intérprete de butô, bastam duas horas", tinha-lhe dito Le Roy. E este só conseguiu responder: "Não me lembro de o ter dito, mas assumo a responsabilidade. Se não o tiver dito, tiveste uma excelente ideia".
Estava lançado o mote para uma peça que deveria levar o coreógrafo a prolongar o seu modo de pensar a própria dança, onde há uma vontade de identificar o movimento sugerindo interpretações diversas que o ampliem e explorem esse potencial de abstracção. Chamou-lhe Xavier Makes Some Rebutoh, trabalhou-a nos tempos livres e mostrou-a a 24 de Novembro de 2009 no Museu da Dança, que Charmatz dirige em Rennes, no Noroeste de França.
O que é a dança?
Product of Other Circumstances, que abre hoje a programação do Mugatxoan (22h, Auditório de Serralves), um laboratório de pesquisa e reflexão coordenado por Serralves em colaboração com duas estruturas de produção espanholas, a Arteleku e a La Laboral, surge daí e do modo como esse desafio levou Xavier Le Roy a atirar-se, uma vez mais, à reavaliação da sua prática e, por consequência, do que é a própria dança.
A peça é "a mais recente tentativa de Xavier Le Roy para atravessar as fronteiras da dança e da coreografia", diz peremptoriamente Marten Spangberg, também ele performer mas sobretudo teórico (foi co-curador do projecto Capitals, que decorreu na Gulbenkian no início da década). Não será difícil perceber porquê. O que Xavier Le Roy se propunha fazer ia ao encontro de uma investigação que diz muito a uma geração de coreógrafos como Charmatz, Jerôme Bel, Eszter Salamon, Meg Stuart, Benoît Lachambre, La Ribot, Mathilde Monnier, Vera Mantero ou Lia Rodrigues, onde a investigação está na base da própria criação. O resultado não é aquilo que vemos, mas sim aquilo que vemos é um processo em permanente questionamento, mesmo se apresentado como um objecto finalizado.
Ao longo dos anos, o trabalho deste coreógrafo francês tem-se caracterizado por uma investigação e uma reflexão profundas sobre os fundamentos da própria criação coreográfica, a sua relação com a história, a consciência de que há um filtro chamado biografia que condiciona os discursos e, muito particular, uma necessidade de identificação de rituais pertencentes à dança expressos noutras disciplinas. Ou, se quisermos, a vontade de ver dança em outras disciplinas.
Processo em construção
Mas talvez seja preciso explicar ainda que esta ligação ao butô não surge por acaso no discurso de Charmatz. O ano passado, a Culturgest, em Lisboa, mostrou La Danseuse Malade, de Charmatz, com uma Jeanne Balibar a ler textos de Tatsumi Hijikata, o pai do butô, e um Charmatz a ser atacado por um cão. Nesta peça, o imponderável e o intencional cruzavam-se, naquilo que é uma perpetuação do discurso sobre a instabilidade da própria concepção coreográfica.
O butô, sendo um género com identidade própria dentro da grande família da dança praticada no Oriente, tem com a dança contemporânea europeia uma relação que vem de longe. Podemos atribuir a Kazuo Ohno, que desapareceu em Julho aos 103 anos, a possibilidade de aproximação de linguagens que levaram a uma libertação de um formalismo e normatividade, sem abandonar o rigor e a intencionalidade.
Podemos até recuar à última apresentação de Xavier Le Roy em Portugal, Sacre du Printemps, que esteve no Maria Matos há um ano, para perceber isso mesmo. Então, o coreógrafo apresentava uma peça onde recreava os movimentos do maestro Simon Rattle conduzindo a Filarmónica de Berlim numa interpretação daSagração da Primavera, de Stravinsky. Nela, víamos os movimentos do maestro como se fossem os de um bailarino, no que era também uma leitura dos movimentos propostos por Nijinsky em 1913.
Product of Other Circumstances vive dessa instabilidade. O título liga-se a uma outra peça de Le Roy, Product of Circumstances, criada em 1999, sendo uma ilustração sobre um processo de construção. O seu caractér narrativo e linear mostra o método de pesquisa e questionamento, evidenciando uma vontade de experimentar não apenas o movimento mas a própria reflexão sobre o movimento. Porque a enunciação está na base da coreografia, Xavier observa os movimentos, exemplifica-os ou questiona-os, manipulando por via da intenção as imagens que são sugeridas.
Num dos textos que acompanham o espectáculo, Spangberg diz que a aproximação ao butô, sendo amadora, não deixa de ser feita por quem é um profissional da coreografia. Mas, afastando-se da curiosidade e do anedótico, e mesmo que o humor seja uma ferramenta de trabalho de Le Roy, o espectáculo explora "a poética do corpo num quadro tal que potencia uma introspecção crítica, complexificando, através da sua experiência e conhecimento, a relação dos significados atribuídos pelo corpo e o contexto onde se inserem"."
quarta-feira, setembro 29, 2010
quinta-feira, setembro 23, 2010
“Na terra a olhar o céu” CCVF Guimarães 25 Setembro

|
terça-feira, setembro 21, 2010
segunda-feira, setembro 20, 2010
sábado, setembro 18, 2010
Pelo Norte

Um Movimento que quer ser um Partido. Apesar de desconhecer a sua ideologia de fundo, é de louvar que alguém queira defender o Norte, as Regiões, a proximidade e assim o País. Lisboa sempre será o "nosso encanto", mas há quem se esqueça que há mais país para além das suas cadeiras no Rossio.
Raimundo Gomes
sexta-feira, setembro 17, 2010
quinta-feira, setembro 16, 2010
PONTES PARA UM FUTURO MAIS POSITIVO — EXPOSIÇÃO
pass(e)ar - passear em vez de passar
e se PASSAR pudesse SER MUITO MAIS?
e se uma ponte pudesse levar até nós a NATUREZA?
e se o homem voltasse a sentir o TEMPO?
Será uma ponte capaz de crescer como a organicidade de uma flor?
Poderão seus pés serem JARDINS?
e se um jardim VERMELHO provocasse em nós o OBSERVAR?
e se um jardim AMARELO fizesse-nos RESPIRAR?
e se um jardim AZUL permitisse-nos MEDITAR?
será uma ponte capaz de ser oposição à velocidade ilusória da sociedade do consumo?
Seremos nós capazes de recuperar o tempo real das coisas?
Falo sobre tempo!
Falo sobre sentir!
Falo sobre ser capaz de passear onde apenas precisamos passar!
trabalho de: Raimundo Gomes, José Oliveira e Henrique Chaló
Experimenta Design
PONTES PARA UM FUTURO MAIS POSITIVO
Exposição do Concurso Internacional de Ideias para Nova Ponte Ciclável em Lisboa
Mais de 50 projectos de arquitectura revelam propostas inovadoras e sustentáveis para uma ponte ciclável sobre a 2ª circular em Lisboa.
Em Julho de 2009, a Fundação Galp Energia em parceria com a EXD’09 desafiou arquitectos e engenheiros portugueses e estrangeiros a projectar um novo equipamento para a cidade. Possibilitando a travessia da 2ª circular em bicicleta, esta ponte constituiria um estímulo à mobilidade urbana sustentável bem como um legado para Lisboa e seus habitantes.
Uma iniciativa da Fundação Galp Energia, esta exposição apresenta parte significativa dos projectos submetidos a concurso, oriundos de 14 países, dos quais se encontram representados Bangladesh, Bélgica, Brasil, Espanha, Índia, Israel, Itália, Jordânia, Portugal, Reino Unido e Tunísia.
Inauguração 16 Setembro, 19h30
Palácio Quintela
17 de Setembro – 17 de Outubro
Terça a Domingo, 10h - 22h
Entrada Gratuita
Rua do Alecrim, 70 / 1200-018 Lisboa
IS YOU ME

|
"Carne e píxeis sobre tela" Crítica Ípsilon por: Luísa Roubaud

- ípslon
- Is You Me (Torres Novas)
- Coreógrafo: Benoît Lachambre (criação conjunta), Louise Lecavalier (criação conjunta), Laurent Goldring (criação conjunta), Hahn Rowe (criação conjunta)
- M/12. Festival Materiais Diversos.
quarta-feira, setembro 15, 2010
terça-feira, setembro 14, 2010
segunda-feira, setembro 13, 2010
terça-feira, setembro 07, 2010
domingo, setembro 05, 2010
Encontros Internacionais de Música 2010 | CCVF - Centro Cultural de Vila Flor

|
sábado, setembro 04, 2010
Às voltas no mundo de Sofia

"É um filme sobre o vazio. Sobre gente no limbo à procura do seu lugar na vida.Somewhere anda às voltas sem sair do mesmo sítio - tal como Sofia Coppola. E isso, neste caso, é bom
Daí que, quatro anos depois de uma Marie Antoinette que dividiu as águas e levou alguns a chamarem-lhe mulher de um só filme, o primeiro frisson inevitável da competição do Festival de Cinema de Veneza seja Somewhere.
O filme foi acolhido calorosamente - a idiossincrasia de Marie Antoinette foi perdoada, mesmo que não reencontremos aqui a inspiração do sublime Lost in Translation, mesmo que este filme que se diz ser o "mais pessoal" da filha Coppola seja no fundo mais uma variação sobre o seu tema habitual: gente no limbo à procura do seu lugar na vida.
Mas chegará isso para recuperar o estatuto?
Não sabemos. Apesar dos aplausos que receberam o filme na projecção de imprensa, estamos mesmo a ver muita gente a resmungar que Somewhere é mais um filme de menina rica sobre meninos ricos que não sabem o que fazer na vida.
É verdade. Lembrámo-nos, a certa altura, do episódio que Sofia escreveu para aHistória de Nova Iorque do pai Francis, há vinte anos, sobre uma menina rica que vive num hotel - e Johnny Marco, o actor desenraizado interpretado por Stephen Dorff que é o centro de Somewhere, vive no lendário Chateau Marmont de Los Angeles.
Lembrámo-nos, também, de Marie Antoinette, menina rica perdida num mundo que não dominava - e Johnny também está perdido, na cerveja, nas noitadas, no tabaco, no sexo fácil a toda a hora, nas lap dances ao domicílio, no superluxo dos hotéis e do tratamento VIP. Que não são "substitutos" de nada mas apenas maneiras de preencher o vazio.
Mas o que Sofia faz tão bem é precisamente fazer-nos sentir o vazio - viver o vazio. Dentro desta fachada de luxo não há nada e é preciso que haja alguma coisa, quanto mais não seja por Cleo, a filha adolescente que visita Johnny de vez em quando e acaba por lhe mostrar, imperceptivelmente, o que lhe falta.
E é preciso estar com atenção para ver o que falta. Somewhere é um filme de pormenores subterrâneos, planos longos e cores queimadas (rodadas e projectadas em película - o director de fotografia é Harris Savides, que assina aqui um segundo belo trabalho de Los Angeles em filme depois do Greenberg de Noah Baumbach). É o filme mais despojado, mais austero, mais "vazio" de Sofia - e esse despojamento é o exacto oposto da máquina da fama que Somewhere retrata com um misto impiedoso de melancolia e humor que fere onde dói mas que não julga. Contudo, o próprio filme presta-se a essa máquina, ao estar a concurso num festival tão mediaticamente VIP como Veneza.
A ironia não se perde: ao nosso lado na projecção está uma jornalista italiana louríssima, impecavelmente produzida, que logo antes do filme começar pega no espelho para ver como está o cabelo, bufa aborrecida um par de vezes ao longo do filme e, assim que as luzes sobem, saca da bolsa para retocar a maquilhagem.
Há, evidentemente, algo de rebelde num filme que morde (mesmo que gentilmente) a mão que lhe dá de comer, de menina rica que se queixa sobre como é chato ser uma menina rica. Mas são essas contradições que alimentam a tensão do cinema de Sofia e, sobretudo, de Somewhere.
E, como em todos os filmes de Sofia, é nesse vazio onde nada parece acontecer que tudo acontece - por camadas, por acumulação de pequenos nadas que constroem uma história pontilhista.
É legítimo perguntar: estaríamos a prestar tanta atenção a Somewhere se fosse outra pessoa (digamos, Vincent Gallo) a realizá-lo? Gostaríamos tanto? É uma pergunta sem resposta. Mas pensá-lo implica que Sofia é uma menina rica que só filma por ser filha de quem é. E o que faz de Somewhere um bom filme é precisamente isso: ninguém filma o vazio do sucesso como alguém que o conhece de dentro para fora. Alguém como Sofia Coppola. Ninguém filma o vazio do sucesso como alguém que o conhece de dentro para fora. Alguém como Sofia Coppola (à esquerda, imagem de uma das cenas de Somewhere)"