quarta-feira, julho 26, 2006

A Concha

A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fachada de marés, a sonho e lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.

Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos

E telhados de vidro e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta ao vento, as salas frias.

A minha casa… Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentando numa pedra de memória.

Vitorino Nemésio in “Bicho Harmonioso”

Um abraço de agradecimento ao meu amigo António Brás, que teve a gentileza de enviar-me este poema.

1 comentário:

Anónimo disse...

borboleta