Entro no palco. Sou um actor cuja peça que queria ter ensaiado, não ensaiei.
Estou no palco e apenas sinto o que não sei. O peso deste fardo devia-me paralisar, mas deixa-me leve.
Os olhares dos espectadores possuem uma força e pela primeira vez percebo-a. São agora os braços que dão forma e movimento aos meus braços.
A satisfação das palmas esmaga a sala. Após ter perdido o meu ego e o meu corpo se ter esvaziado, sinto o cheio da ausência. Larguei as minhas próprias mãos e senti-me abraçado.
Perdi a memoria até do presente. Compreendo que só se pode ser actor uma vez, que só se existe uma vez.
raimundo gomes I 2006
2 comentários:
Muito bem escrito, Raimundo!
Puseste por palavras toda a emoção que trespassa o actor naqueles breves momentos.
Na verdade, 'perde-se a memória do presente'...
Só se existe uma vez... E no palco da vida temos de representar e aproveitar essa "breve vez" da melhor forma...
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